2 meses

Boa noite!

Neste segundo dia, o Josué manteve a sua boa disposição, a sua alegria que contagia a todos e um bom apetite. Tudo isto são sinais de uma boa resposta à quimioterapia!
Hoje, o nosso menino fartou-se de brincar com os outros meninos aqui internados. Passeou pelos quartos visitando cada um deles, com um "à vontade" extraordinário, tanto com adultos como com crianças!
Faz hoje precisamente 2 meses que o Josué foi hospitalizado e durante toda esta história, houve muita coisa que mudou, tanto em nós como no Josué e é sobre a sua mudança, que queremos falar um pouco mais. O nosso homenzinho tornou-se um menino muito activo e muito mais sociável, mesmo com quem não conhece; desenvolveu bastante a fala e até adquiriu conhecimentos noutras linguas, nomedamente Inglês e Alemão; aprendeu a compartilhar as suas coisas com os outros, chegando mesmo a dar alguns dos seus bons brinquedos ao hospital...é engraçado que isto aconteceu à cerca de 3 semanas, quando regressámos a este hospital para um controlo médico e ontem, quando os viu na sala de brinquedos disse em voz alta: "papá, mamã, BRAVO, o Zé deu aos meninos com doidoi!", isto deixou-nos de boca aberta! Também passou a ficar sensível aos problemas dos outros meninos...ontem, por exemplo, antes de adormecer, a Liliana estava a orar com ele, esquecendo-se de mencionar o seu companheiro de quarto (um menino de 11 meses)e rapidamente o Josué deu o alerta, apontando insistentemente para este.
Aprendemos uma lição: não é apenas vivendo uma vida normal ,com as habituais rotinas (créche, escola, bons brinquedos etc...) que desenvolve as crianças, principalmente, no que diz respeito às suas personalidades. Ao chegarmos aqui pela primeira vez, tinhamos bastante medo de como iria ser o desenvolvimento do Josué, pensávamos que esta luta iria atrasar todo o seu crescimento, mas hoje chegamos a uma conclusão: as dificuldades fazem crescer e mudar os nossos filhos, já para não falar de nós como pais!

Por falar em crescimento, mudanças e fases difíceis na nossa vida, deixamos o seguinte pensamento:


"O Megafone da dor

O que pode Deus usar que fale tão alto a ponto de prestarmos atenção? O que nos convencerá de que esta terra não está levando a vida planejada por Deus? C.S. Lewis introduziu a frase “ dor, megafone de Deus”. É uma frase apropriada, porque a dor realmente grita. Quando bato com o dedo do pé, ou torço o tornozelo, a dor avisa meu cérebro aos berros que há algo errado. Semelhantemente, a existência do sofrimento na terra é, assim acredito, um berro a todos nós de que alguma coisa está errada. É isso que nos faz parar e examinar outros valores. Poderíamos, como muitos fazem, acreditar que o objetivo da vida é ter conforto. Divertir-se, construir uma linda casa, comer boa comida, ter sexo, levar uma vida agradável...isso seria tudo. Mas a presença do sofrimento complica tal filosofia. É verdadeiramente difícil acreditar que o mundo exista com essa finalidade, quando a terça parte dos seus habitantes vai para cama com fome todas as noites. É difícil aceitar que o propósito da vida seja o divertimento, quando vemos jovens adolescentes destruidos pelas estradas. Ainda que a pessoa tente esquecer tudo e apenas aproveitar a vida, o sofrimento está presente, trazendo à lembrança quão superficial seria a vida se o mundo se resumisse apenas nas experiências individuais. Algumas vezes sussurrando, outras vezes gritando, o sofrimento é um clamor transcendente de que toda condição humana está fora do seu funcionamento normal. Alguma coisa está errada numa vida de guerras, violências e insultos. Precisamos de auxílio. Aquele que deseja estar em paz com o mundo, que pensa que viver é o único alvo da existência, só pode alcançar a sua meta com algodão nos ouvidos; o megafone do sofrimento grita muito alto. Algumas religiões tentam negar a existência da dor, ou elevar-se acima dela. Mas o sofrimento é compatível com a visão cristã do universo que revela ser o nosso habitar, num planeta sujo. A dor, o megafone de Deus, pode afastar-nos dele. Podemos odiar a Deus por ele permitir tal miséria. Ou, por outro lado, a dor pode levar-nos a ele. Podemos crer nele, quando diz que este mundo não é tudo o que existe, e saber que ele está preparando um lugar perfeito para aqueles que o seguirem na terra destruída pela dor."

Philip Yancey no livro “ Deus sabe que sofremos”